Gilson Aguiar comenta a flexibilização de horário da Voz do Brasil
Pixabay/domínio público

Comentário

Gilson Aguiar comenta a flexibilização de horário da Voz do Brasil

O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 15/03/2018 - 07:43

Há uma diferença entre o que se quer comunicar e o que se quer ouvir. Na democracia, o direito de ouvir é o mesmo de se pronunciar, porém, a concordância entre as partes é fundamental. Imposição aos ouvidos fere. Ainda mais quando o conteúdo não expressa a verdadeira face de quem fala.

A Voz do Brasil, programa criado pelo regime varguista, inicialmente como a “Hora do Brasil”, sempre imperou no rádio brasileiro em um dos horários mais nobres, das 19h às 20h. Nada poderia ser feito. Ou escuta ou desliga.

Mas a origem dos atos sempre ajuda a entender sua intenção. Quando criada, na Era Vargas, em 1935, atendeu aos interesses de uma política de propaganda pública eficiente para um regime que pretendia ser absoluto. Getúlio não estava sendo original em suas medidas. O regime fascista italiano e o nazista alemão, contemporâneos do governo Vargas, já tinha mostrado o caminho das pedras. A manipulação dos meios de comunicação de massa.

A ideia de Getúlio era garantir o contato com parte considerável da população brasileira, analfabeta, mas de ouvidos abertos. Um ato de doutrinamento e sedução pelo líder patriarca. Era o nascimento do populismo ardiloso e maniqueísta. A afirmação e consolidação da ideia de que o povo se encontrava desamparado e precisava de um “pai dos pobres”, de um “salvador da pátria”. Não por acaso esta lógica torpe e congelante ainda está hoje presente nos políticos populistas e populescos herdeiros da prática varguista.

Com a flexibilização da Voz do Brasil, que pode ser sancionada pelo presidente Temer, caminhamos para democratizar ainda mais os meios de comunicação. Avançamos na busca de dar mais liberdade de expressão e opção aos brasileiros. Esperamos que as emissoras aproveitem com qualidade um dos horários mais nobres do rádio, onde grande parte dos brasileiros pode estar de ouvidos abertos. Mas aí, a escolha do ouvinte vai imperar, falar mais auto. E o resultado da escolha será o limite ou não da qualidade de quem escuta e não do autoritarismo de quem que se fazer ouvir.

Respeitamos sua privacidade

Ao navegar neste site, você aceita os cookies que usamos para melhorar sua experiência. Conheça nossa Política de Privacidade