Gilson Aguiar: 'há em nós um encontro de povos e nações'
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Gilson Aguiar: 'há em nós um encontro de povos e nações'

O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 11/05/2018 - 08:22

O Brasil tem sua sociedade do encontro. Muitos deles com tantos desencontros e conflitos. Porém, há de se admitir, somos o maior país afro fora da África. Mais que os europeus, portugueses, colonizadores e além dos indígenas, que povoavam a terra e viram chegar os demais. Somos negros.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 54% dos brasileiros são negros, infelizmente menos de 20% assumem. Entre os mais ricos são 17%. Já, entre os mais pobres eles são 73,2%. Desigualdade desdobrada da escravidão, a qual se encerrou oficialmente em 13 de maio de 1888, ou seja, a 130 anos. Lembrando que o Brasil foi o último país do ocidente a romper com o trabalho compulsório.

A escravidão nos construiu, nos fez. Inna Von Binzer, uma educadora alemã contratada por uma família de um grande produtor de café, ainda na época do Império, relata em sua obra, “Os Meus Romanos”, o dia a dia da vida brasileira com a escravidão. Von Binzer afirma em sua obra, formada de cartas que escreveu para uma amiga na Alemanha, que o Brasil era o resultado do trabalho dos escravos. “Eles é que produzem a riqueza do país”, afirma a educadora. “O que seria do Brasil sem os negros? ”, questionava a alemã. Para ela, os negros trabalhavam, os brancos não.

Diferente de qualquer povo, somos a mistura. Temos que admitir isso. Aceitar nossa origem e buscar uma solução para nossas contradições construídas ao longo da história. Não há modelo importado que resolva. Não existe receita milagrosa para o futuro do país. Há, apenas, a capacidade de conhece-lo, profundamente, para poder agir e melhorar sem esquecer de onde viemos. Não há do que se envergonhar.

Oliveira Viana, intelectual brasileiro do final da primeira república e da fase varguista, criticava nossas origens. Dizia que as populações formadores do Brasil deixaram uma herança ruim. Do português, ao negro e o índio, nenhum deles se mostrou engenhoso. Há quem ainda hoje defenda esta ideia. Sempre foi mais fácil negar do que entender. Temos que reconhecer e valorizar o que somos, um povo único, como afirma Darcy Ribeiro.

Inna von Binzer em pleno Século XIX, em meio a escravidão, percebeu o Brasil que observava pelo olhar “estrangeiro”, o que muitos dos brasileiros não conseguem perceber ainda hoje. Este país é, e muito, uma construção africana. Somos, com todo o orgulho, o país mais afro fora da África.

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