Hospital Psiquiátrico de Maringá é interditado após relatório da Sesa
Foto: Luciana Peña/CBN Maringá

Saúde

Hospital Psiquiátrico de Maringá é interditado após relatório da Sesa

Saúde por Luciana Peña em 20/07/2022 - 16:09

A CBN teve acesso ao relatório produzido por servidores da Secretaria de Saúde do Paraná. O relatório foi produzido após uma visita feita por profissionais da Sesa ao HPM no dia 27 de junho.

Foram analisados, por amostragem, 10 prontuários de pacientes internados. Dos prontuários, apenas um paciente havia tido contato com familiares.

Em um dos prontuários analisados durante a visita técnica às 11h do dia 27 de junho, havia a informação de que a medicação tinha sido aplicada naquele dia às 13h.

Um dos prontuários é de um adolescente. Neste caso, chamou a atenção da equipe da Sesa o fato de o paciente ter apresentado quadro descrito como "calmo e colaborativo" durante os primeiros sete dias de internação. Após esse período, no entanto, o jovem passou a ficar sonolento, prostrado e com aparente declínio do estado de saúde. Os agentes da Sesa foram ver de perto o paciente em questão, na ala dos adolescentes, e viram que ele precisava de ajuda para comer e até se deitar.

O relatório também aponta que nenhum dos adolescentes internados estava acompanhado de um responsável, como preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente. Também não foram localizados livros, revistas e materiais escolares ou recreativos para os adolescentes poderem continuar os estudos enquanto estivessem internados, conforme preconiza a Lei Federal n. 13.716/18.

Os agentes públicos, ao analisaram os prontuários de pacientes, constataram que havia prontuário sem registro sobre a evolução do paciente há sete dias.

O relatório também informa a situação de um paciente em condição asilar, porque está internado no hospital há mais de dois anos ininterruptos.

Sobre os aspectos sanitários e assistenciais chama a atenção que “em todas as alas os profissionais de enfermagem tiveram reconhecida dificuldade no manejo do desfibrilador” e ainda tinham dúvidas em relação aos medicamentos, como por exemplo, risco de intoxicação.

Nos banheiros foram encontrados espelhos e fios elétricos visíveis, impróprios para um hospital psiquiátrico. A água do chuveiro também não esquentou, mesmo depois de acionada a caldeira.

O relatório da Sesa apontou ainda irregularidade na habilitação do hospital junto ao Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).

Na visita técnica os agentes da Sesa foram acompanhados de profissionais da Secretaria Municipal de Saúde.

Na sexta-feira (15), a Prefeitura de Maringá interditou cautelarmente o hospital e determinou que os pacientes sejam transferidos num prazo de 15 dias ou tenham alta nos casos em que seja possível.

A CBN entrou em contato com a Prefeitura de Maringá e a assessoria informou que vai emitir uma nota sobre o assunto.

A CBN também entrou em contato com a assessoria do Hospital Psiquiátrico. Preliminarmente a assessoria informou que o hospital está em obras de adequação. 

(atualizado às 16h55) - Em nota a Prefeitura de Maringá informou que:

"A Prefeitura de Maringá informa que, atualmente, estão internados no Hospital Psiquiátrico 105 pacientes - dos quais 31 são de Maringá e 74 de outras cidades -, embora o estabelecimento tenha capacidade para 252 leitos. A unidade já teve alas interditadas devido a problemas estruturais. Agora, a Secretaria Municipal de Saúde, por meio da Vigilância Sanitária, interditou o local porque o hospital não cumpriu com o Plano de Trabalho e está com a licença vencida desde abril, não tendo condições sanitárias para funcionar. O município e a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) estão discutindo providências em relação aos pacientes. Um ofício foi encaminhado ao Ministério Público solicitando prazo de dez dias para apresentação de um plano de contingência."

 

Foto: Termo de interdição
Foto: Termo de interdição

(atualizado às 14h de 21.07)  O Hospital Psiquiátrico de Maringá enviou a seguinte nota:

"O HOSPITAL PSIQUIÁTRICO DE MARINGÁ, associação civil sem fins lucrativos, Serviço Hospitalar de Referência Estadual, 100% SUS, que realiza a cobertura assistencial a nível terciário e ambulatorial para a população de Maringá e do Estado do Paraná informa que dispõe de certificados de responsabilidade técnica e licença ambiental e que sempre cumpriu e cumpre a legislação vigente, diretrizes, resoluções e normas de todos os órgãos, tais como Conselho Federal de Medicina, Associação Médica Brasileira, Ministérios da Saúde, Educação e Cidadania, como também da Vigilância Sanitária, assegurando um tratamento multidisciplinar de qualidade, individualizado, com segurança aos pacientes.


Esclarece que até o final de abril do corrente ano estava com o Alvará de Licença Sanitária, tendo sido protocolado tempestivamente o pedido de renovação, porém foi surpreendido com um e-mail somente no dia 12 de julho da Vigilância Sanitária Municipal negando e informando a suspensão de internamentos, sob justificativa de terem sido constatadas algumas supostas irregularidades assistenciais e estruturais.


Destaca-se ainda que o Hospital não teve acesso ao relatório da 15.a Regional de Saúde/SESA, em que aponta supostas irregularidades, embora já tenha solicitado o documento. Entretanto, está sendo protocolada resposta à VISA Municipal, comprovando as obras já realizadas, seu cronograma, bem como documentos e procedimentos médicos e operacionais, que comprovam o equívoco da auditoria.


Informa que os pacientes continuam sendo atendidos com todo zelo pela equipe multiprofissional composta por 133 colaboradores e 13 médicos e que estão sendo realizadas as altas médicas dos pacientes que se encontram em condições para tal ou transferências, até o reestabelecimento da normalidade. No momento, a instituição de ensino e saúde passa por reformas, atendendo a um cronograma previamente estabelecido." 

 

(atualizado às 16h20 de segunda-feira, 25 de julho de 2022) 

Nesta segunda-feira (25), a direção do Hospital Psiquiátrico de Maringá enviou o seguinte comunicado:

"O HOSPITAL PSIQUIÁTRICO DE MARINGÁ, associação civil sem fins lucrativos, Serviço Hospitalar de  Referência Estadual, 100% SUS, que realiza a cobertura assistencial a nível terciário e ambulatorial para a população de Maringá e do Estado do Paraná esclarece:

1- Em relação às notícias veiculadas pela mídia, citando situações adversas verificadas em paciente após internação:

Os pacientes encaminhados ao HPM são, inicialmente, avaliados por médicos, enfermeiros e psicólogos que atuam nas UBS, CAPS e PA. Quando o atendimento ambulatório se mostra ineficaz, esses profissionais  solicitam, junto a Central de regulação de leitos vaga para internação em hospital psiquiátrico, ou seja, nenhum paciente é admitido pelo hospital sem que o serviço ambulatório solicite. Durante a internação, o paciente apresentará oscilação de humor, comportamento desorganizado, discurso desorganizado, delírios e alucinações. O quadro, na maioria das vezes, evolui de forma imprevisível em razão da
impulsividade manifestada por vários pacientes.


2- Sobre materiais de estudos não estarem disponíveis durante vistoria:
Considerando que os pacientes apresentam risco de auto e heteroagressão e muitas vezes, risco de suicídio e homicídio, os materiais utilizados para a realização de atividades terapêuticas e escolares como, por exemplo, canetas, lápis, pincéis, cadernos e livros, são, após o término das atividades, armazenados em locais apropriados para a proteção dos pacientes, da equipe terapêutica e demais colaboradores.


3- Sobre medicação de pacientes:

Com relação a atuação da equipe de enfermagem no que diz respeito a checagem da prescrição, a instituição trabalha com uma rotina de dupla checagem, ou seja, há anotação de medicação antes e após ser prescrita ao paciente.


4- Em relação ao uso de desfibrilador:


O HPM dispõe de uma equipe técnica 24 horas de plantão por dia. Essa equipe é constituída por médico, enfermeiros e técnicos de enfermagem. O hospital possui ainda equipes multidisciplinares com profissionais de psicologia, Terapia Ocupacional, assistência social, educação física, farmácia, nutrição, enfermagem que realizam atendimentos aos pacientes e famílias. Quando ocorre uma situação clínica que necessite da utilização de aparelhos médico hospitalar mais elaborado como, por exemplo, desfibrilador, a referida equipe atuará em conjunto utilizando salas de emergência adequadas ao atendimento de urgência/emergência.

A direção do Hospital frisa ainda que está à disposição para quaisquer esclarecimentos, ressaltando que a instituição, que é referência, sempre prezou pela prestação de serviço de qualidade, humanizado, priorizando e salvando vidas em seus 60 anos de história."

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