

Opinião
Do Bairro à Solidão Vertical: O Fim da Comunidade como Condição Natural
O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 01/07/2025 - 08:00
A Convivência Que Acontecia Nas Ruas
Fui criado em um bairro onde a relação com os vizinhos era íntima e constante. A convivência não acontecia apenas dentro de casa, mas principalmente fora dela — nas ruas, nas calçadas, nas portas abertas das casas onde as famílias compartilhavam não só o espaço, mas a vida. Não era necessário um clube social, nem um espaço comum institucionalizado. O senso de comunidade se manifestava espontaneamente: ajudar o outro era parte da rotina e da identidade coletiva.
Vizinhos, Compadres e Laços que Duravam Uma Vida
As relações entre vizinhos eram duradouras, atravessavam gerações. Era comum ver amizades se tornarem tão fortes que davam origem a compadrios — madrinhas e padrinhos escolhidos entre os amigos da vizinhança. Quem tem hoje 40, 50 ou 60 anos provavelmente se lembra com carinho da infância vivida nas ruas, das brincadeiras com os amigos do quarteirão, dos jogos improvisados, da liberdade segura. O senso de coletividade não era uma escolha — era um reflexo natural da vida cotidiana.
A Transformação das Cidades e o Enfraquecimento do Coletivo
Com o crescimento vertical das cidades e a multiplicação dos edifícios, a lógica da convivência mudou radicalmente. Hoje, embora fisicamente mais próximos — empilhados em apartamentos e andares — estamos emocional e socialmente mais distantes. Cada família vive sua rotina isolada. O encontro com o vizinho é ocasional e, muitas vezes, indiferente.
Nesse novo cenário urbano, o espaço coletivo deixou de ser uma necessidade e passou a ser uma escolha — e nem todos estão dispostos a escolher viver em comunidade. A coletividade, antes aprendida desde a infância, hoje precisa ser reaprendida, reconstruída, renegociada.
O Isolamento Como Parte da Nova Cultura Urbana
A cidade mudou — e com ela, a cultura do cotidiano. Esse novo modo de viver, marcado pelo isolamento e pela individualização, impacta profundamente nossa qualidade de vida, nossas relações e até a maneira como enfrentamos problemas cotidianos. A ausência de laços comunitários pode gerar solidão, insegurança, intolerância. A mudança do ambiente transforma também as pessoas.
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