Ouça "A Semana na História" toda segunda-feira, com o professor e historiador Reginaldo Dias, às 11h50, com reprises às 14h50
A semana na História
O início do mês de outubro é um período de divulgação dos ganhadores do prêmio Nobel. Eventualmente, a escolha dos premiados gera debates, especialmente quando são oriundos do universo político, como aconteceu na semana passada. Mas não vou abordar nenhuma controvérsia.
Quero homenagear um laureado que, a meu juízo, foi amplamente merecedor, o reverendo Martin Luther King, que recebeu o Nobel da Paz em 13 de outubro de 1964. Foi um reconhecimento à liderança do movimento por direitos civis à população negra dos EUA, cujo fato marcante foi a Marcha sobre Washington, ocorrida no ano anterior, quando proferiu um dos mais célebres e poderosos discursos de todos os tempos, conduzido pela frase “eu tenho um sonho”, cujas imagens continuam a nos emocionar tantas décadas depois.
O discurso de Luther King, com sua carga utópica e de denúncia da discriminação a que se sujeitava a população negra dos EUA, procurava inscrever a reivindicação do movimento na tradição libertária de seu país, sede da mais antiga e mais importante república democrática da história contemporânea. O grande acontecimento foi acompanhado com apreensão, visto que a cúpula do Partido Democrata, favorável à pauta, temia que a manifestação fosse excessiva – para usar um eufemismo - para a sensibilidade de setores conservadores da opinião pública. Não obstante, a marcha foi um sucesso e os avanços legislativos vieram logo na sequência: em 1964, houve a sanção da lei dos direitos civis; em 1965, nova lei assegurou direitos políticos.
Ao longo daquela década, a questão dos negros continuou na pauta da política estadunidense, especialmente porque a expansão dos direitos civis não resolvia a questão das diferenças sociais. Vicejou, por exemplo, o sentimento de que os negros, ou afro-americanos, como se costuma dizer hoje, eram um povo colonizado no interior dos EUA. O sentimento era alimentado pelo calor e pela energia das lutas anticoloniais que marcavam a conjuntura internacional daquele período. Nos EUA, vertentes do movimento se radicalizaram, assumiram tons separatistas (anticoloniais) e aderiram aos métodos violentos de ação política.
Na literatura sobre o período, Luther King é referido como líder da ala moderada desses movimentos, visto que se manteve adepto dos meios pacíficos e defendia a integração dos negros na sociedade estadunidense. Luther King, entretanto, viveu radicalmente sua escolha. Abraçou, sem hesitação, a pauta social. Pouco antes de ser assassinado, havia apoiado uma greve de lixeiros no Alabama, um dos estados de mais forte tradição racista dos EUA.
Em seu último discurso, alvo de persistentes ameaças contra a sua vida, ele revela a consciência de que seus dias estavam contados, mas desafia seus algozes e estimula seus seguidores. Ele diz: “Nenhuma ameaça vai nos fazer retroceder. Nós temos dias difíceis pela frente. Mas eu não me importo comigo agora”. Na sequência, citando uma passagem bíblica, evoca a situação vivida pelo profeta Moisés como metáfora para o impasse que ele próprio vivia. Ele diz: “Eu não me importo. Como todo mundo, eu gostaria de viver uma vida longa, mas eu não estou preocupado com isso agora. Porque eu estive no topo na montanha. Eu apenas quero fazer a vontade de Deus. Ele permitiu que eu subisse até o topo da montanha e eu olhei e vi a terra prometida. Eu posso não entrar lá com vocês, mas eu quero que vocês saibam hoje à noite que nós, como povo, vamos entrar na terra prometida”. Foi assassinado em 4 de abril de 1968.
Ouça "A Semana na História" toda segunda-feira, com o professor e historiador Reginaldo Dias, às 11h50, com reprises às 14h50
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