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A semana na História
Em 22 de setembro de 1973, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), único partido autorizado a atuar como oposição legal no período da ditadura, lançou uma chapa para concorrer à sucessão do presidente da república, o general Emílio Médici. A chapa era composta pelo deputado federal Ulysses Guimarães, presidente nacional do MDB, e pelo jornalista Barbosa Lima Sobrinho. Havia, no entanto, um problema: a eleição ocorria pelo mecanismo do voto indireto de um Colégio Eleitoral controlado pelos governos militares, onde a oposição não tinha chance de vencer.
Quando patrocinaram o golpe de Estado que depôs o presidente João Goulart em 1964, os militares haviam garantido que seria uma intervenção conjuntural saneadora, mas esse fato não alteraria o calendário da eleição direta para presidente, que correria em 1965. Não foi o que aconteceu. Em 1965 em 1966, introduzindo mudanças por Atos Institucionais, aboliram a eleição direta para presidente, governador e prefeitos de capitais. Em outras palavras, o presidente da República e os governadores seriam aprovados em uma eleição indireta do colégio eleitoral, cuja composição era controlada pelo governo. A única eleição direta ao Executivo era para prefeitos de cidades do interior. Nas capitais, o prefeito também seria indicado. Além disso, foram extintos os antigos partidos e autorizados a funcionar apenas duas legendas, a Arena, de apoio ao governo, e o MDB, a oposição consentida.
Nos primeiros anos, havia uma interpretação de que participar desse jogo de sucessão dos cargos governamentais era legitimar uma farsa eleitoral, motivo de o MDB nem apresentar candidatos. Em 1970, em eleições aos cargos legislativos (deputados e senadores), a soma dos votos nulos e brancos com a abstenção compôs um total maior do que os votos do MDB.
Nas primeiras sucessões presidenciais do período militar, o MDB nem apresentou nomes. Em 1973, porém, a legenda decidiu lançar uma chapa, mesmo sem condições de vitória. A ideia era participar, denunciar o processo e debater, tanto quanto possível, a situação do país. Por isso, seria uma anticantidatura.
A gestação dessa tática teve um importante capítulo em Maringá, cidade comandada pelo MDB. Em 25 de agosto, a cidade sediou um encontro regional do MDB. Contanto com a presença do deputado Ulysses Guimarães, o evento reuniu os principais líderes do MDB do estado, tendo o prefeito de Maringá, o emedebista Sílvio Barros, como anfitrião.
Como acontecia com os eventos da oposição, o DOPS, polícia política, vigiou a convenção. Um agente policial elaborou um alentado relatório, com registro dos debates. Segundo ele, porta voz da principal proposta, “o prefeito Silvio Barros apresentou à mesa a moção para que o Sr. ULYSSES GUIMARÃES fosse indicado candidato do MDB para concorrer às próximas eleições à presidência da República”.
Como era previsto, o colégio eleitoral convalidou o nome do candidato oficial, general Ernesto Geisel, mas a tática do MDB gerou frutos. A anticandidatura pôs a nu, com os limites do espaço disponível, a farsa eleitoral e as contradições da política nacional. Foi um turning point. Daí em diante, a legenda viveu uma espiral de crescimento e legitimidade, tornando-se, cada vez, a voz da oposição até o período de abertura política.
Avaliando os fato em livro de memórias, o escritor Silvio Sebastiani, que era emedebista, foi enfático na avaliação: “Foi assim que começou a campanha de Ulysses Guimarães como anticandidato à Presidência. Foi em Maringá que nasceu a ‘célula-mãe’ de uma candidatura que viria a ter repercussão nacional”.
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