
Opinião
Ética na Gestão Pública: Entre a lei e a cultura do patrimonialismo
A ética deve estar presente em todas as esferas da gestão pública: na utilização dos recursos do Estado, nas ações de representantes eleitos e na conduta dos agentes públicos. A Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/1992) é um exemplo claro desse compromisso, ao estabelecer três formas principais de atos de improbidade:
Enriquecimento ilícito: quando o agente público busca vantagens financeiras indevidas ou utiliza o patrimônio público em benefício próprio.
Prejuízo ao erário: quando há intenção deliberada de causar danos financeiros ao Estado, como no caso de obras superfaturadas ou na compra de materiais escolares acima do preço de mercado.
Violação dos princípios da administração pública: quando há desrespeito a valores fundamentais, como a moralidade, a impessoalidade e a lealdade na gestão pública.
Esses atos representam não apenas ilegalidades, mas um ataque à confiança da sociedade na administração pública.
Apesar das normas legais, muitos agentes públicos no Brasil ainda praticam atos de improbidade. Isso se explica, em parte, por uma herança histórica marcada pelo patrimonialismo.
Mas o que significa patrimonialismo? Trata-se da confusão entre o que pertence ao Estado e o que é de uso privado, uma fusão que distorce a noção de bem público. O sociólogo Max Weber descreveu o patrimonialismo como uma forma de dominação tradicional, na qual o governante exerce poder sobre o patrimônio público como se fosse extensão de sua propriedade.
No Brasil, essa prática criou uma cultura política onde representantes públicos se viam como intocáveis, capazes de perseguir opositores, punir desafetos e até cometer ilegalidades em nome da manutenção de seus interesses.
Diante dessa realidade, a cobrança por ética na representação pública torna-se indispensável. O líder público deve ser exemplo, não apenas gestor de recursos. Infelizmente, a história brasileira mostra que o poder, muitas vezes, não foi conquistado pela força do exemplo, mas pela manipulação de alianças e forças políticas — práticas que, em regra, se distanciam da ética.
A ética na gestão pública é mais que um ideal: é uma necessidade urgente para a construção de um Estado justo, transparente e democrático. Sem ela, perpetua-se a cultura patrimonialista e abre-se espaço para a corrupção e a injustiça. O verdadeiro desafio é transformar a forma como se exerce o poder no Brasil, substituindo a manipulação pela integridade e o exemplo.
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