Há 40 anos, 'Brasil: Nunca Mais' denunciava os crimes da ditadura
A semana na História

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Há 40 anos, 'Brasil: Nunca Mais' denunciava os crimes da ditadura

A semana na História por Reginaldo Dias em 14/07/2025 - 11:50

No último sábado, ocorreu em São Paulo, no Memorial da Resistência, o lançamento da edição especial de 40 anos do livro Brasil: nunca mais, uma emblemática publicação que impactou os debates sobre a ditadura militar encerrada em 1985.

Com efeito, há 40 anos, o país foi surpreendido com a publicação do livro Brasil: nunca mais. Quatro meses antes, com o fim do mandato do último general presidente, havia sido encerrado o ciclo da ditadura militar iniciado com o golpe de Estado de 1964, embora o peso do passado ainda assombrasse aqueles tempos de redemocratização. Questionada já em seu nascimento, a Lei da Anistia tinha o espírito de bloquear o debate sobre as violações aos direitos humanos que o Estado praticara naquele período.

As ditaduras, não raro, procuram apagar os vestígios materiais de suas atividades repressivas, mas o projeto Brasil: nunca mais, em trabalho coordenado pelo Cardeal D. Paulo Evaristo Arns e pelo reverendo James Wright, com apoio da Arquidiocese de São Paulo e do Conselho Mundial das Igrejas, conseguiu reproduzir os arquivos do Superior Tribunal Militar.

Isso ocorreu, entretanto, de forma sigilosa, aproveitando as brechas do processo lento e gradual de abertura política. Quando os militares deixaram o poder, os arquivos do STM já haviam sido reproduzidos, com cópias dos documentos depositadas em instituições internacionais, e os resultados da pesquisa estavam sintetizados em livro. Vale a pena detalhar como ocorreu esse trabalho.

A partir da Lei da Anistia, os advogados passaram, com o objetivo de normalizar a vida de seus clientes, a ter acesso individual aos processos. Foi por intermédio de alguns desses advogados, historicamente comprometidos com a luta pelos direitos humanos, que se iniciou a reprodução de alguns processos.

Explicou o reverendo Jaime Wright: “tínhamos trabalhando conosco doze advogados que, de maneira aparentemente casual, começaram a retirar pastas do arquivo. Nosso pessoal trabalhava dez horas por dia, sete dias por semana, copiando página por página. Os advogados, então, devolviam os originais, tal como era requerido, evitando assim qualquer suspeita. Havia, naquela parte dos arquivos, um total de 707 casos, que envolviam mais de 7 mil acusados. Podia-se retirar um caso inteiro por vez. Resolvemos continuar simplesmente fotocopiando até que fôssemos de algum modo forçados a parar. Com o tempo, chegamos a fotocopiar metade do arquivo - muito mais do que tínhamos jamais pretendido - e então, um dia, após três anos fotocopiando, percebemos, para nosso espanto, que tínhamos conseguido copiar até o último processo de todos os que haviam - mais de um milhão de páginas! Tínhamos duplicado todo o universo de documentos no arquivo”.

Realizado na fase final da ditadura, período em que estava ativa a rede de serviços de informações e inteligência do regime, o projeto foi concluído em condições de impressionante sigilo. Tornou-se público somente quando seu principal produto, o livro, estava disponível aos leitores.

Publicado pela Editora Vozes, o livro se tornou campeão de vendas. Que a segunda edição consiga renovar o interesse pelo livro e iluminar a reflexão sobre aquele passado sombrio, para que ele não se repita nunca mais.

Ouça "A Semana na História" toda segunda-feira, com o professor e historiador Reginaldo Dias, às 11h50, com reprises às 14h50


 

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