Com caça ilegal, consumo de animais silvestres coloca saúde em risco
Foto: Arquivo/Polícia Ambiental

Transmissão de doenças

Com caça ilegal, consumo de animais silvestres coloca saúde em risco

Segurança por Monique Manganaro/GMC Online em 05/10/2020 - 11:25

A venda em mercados clandestinos e consumo de animais silvestres caçados ilegalmente como capivara, paca e tatu são realidade na região de Maringá. O batalhão de Polícia Militar Ambiental que atua nesta área registrou, em 2020, crescimento exponencial no número de apreensões de armas com caçadores de animais silvestres.

Segundo a corporação, até o fim de julho, foram aproximadamente 300 armas apreendidas em cidades próximas a Maringá. 

O grande número de apreensões indica o crescimento da prática na região. Cidades como Mandaguari, Marialva, Floraí e Polinópolis são as mais visadas, explica o tenente Ulisses de Deus Gomes. “A maior incidência de ocorrências com caçadores são nos municípios que tenham rios que passam pela área e eles vão até a área de reserva legal para praticar esse crime”, detalha. 

Segundo ele, diferentemente de outros países, a caça a animais silvestres no Brasil é crime, que pode resultar em até um ano de prisão, além de multa e processo administrativo. A prática, no entanto, é mais comum do que muitos imaginam e passa a ser impulsionada pela existência de compradores dos produtos. 

Foto: Arquivo/Polícia Ambiental
Foto: Arquivo/Polícia Ambiental

“Hoje, diante das ocorrências que nós atendemos, normalmente, as pessoas que são autuadas praticando crime de caça estão caçando para vender para um terceiro. Claro que isso não fica caracterizado de maneira explícita, mas as denúncias que geralmente nos conduzem para encontrar o caçador indicam que é uma pessoa que já faz isso para vender o produto do abate”, diz Gomes. 

De acordo com o tenente, na região de Maringá, animais como capivara e paca são os mais procurados. No entanto, tatus e lebres também são carnes exóticas comumente consumidas e representam lucro expressivo para caçadores por causa do alto valor de venda no mercado clandestino. 

Gomes faz questão de explicar que a caça a animais silvestres é proibida nacionalmente. Entretanto, a criação de espécies para abate, em cativeiro, se respeitando todas as normas ambientais, é permitida. 

“Existe um mercado para consumo de carne de animais silvestres? Existe, mas o mercado formal trabalha com a criação desses animais em cativeiro. Essa criação precisa de toda uma norma, da autorização dos órgãos ambientais e, a partir daí, são animais criados em cativeiro e passam a ser comercializados para consumo, mas a origem dessa carne é diferente daquela retirada da natureza. Até porque essa carne precisa atender alguns critérios sanitários para garantir o consumo desse alimento”, afirma. 

A preocupação com protocolos sanitários ocorre porque, segundo o tenente, esses animais são potenciais transmissores de doenças para seres humanos. Quando ocorre o consumo de uma espécie retirada diretamente da natureza, o risco é eminente. 

Foto: Arquivo/Polícia Ambiental
Foto: Arquivo/Polícia Ambiental

“O tatu, quando abatido na natureza, é um animal que transmite a Doença de Hansen, conhecida como hanseníase. Muitos desses animais [silvestres] são vetores de doenças. Nós temos vários casos e, quer queira ou não, uma das teorias do surgimento do coronavírus é de que foi a partir do consumo, no mercado chinês, de um animal nativo da região. Existe um risco muito grande no consumo da carne de caça”, ressalta Gomes. 

De acordo com ele, outro animal comum na região e muito consumido é a capivara, que pode transmitir a febre maculosa, doença que apresenta risco à vida humana.

“Os animais silvestres [encontrados] aqui na região são reservatórios de doenças. Tem alguns estudos [sobre] zoonoses – doenças transmitidas pelos animais – que indicam que 60% das doenças que ocorrem em seres humanos são zoonoses, e 71% dessas doenças são oriundas de animais silvestres. Daí a preocupação não só pela preservação desses animais, mas também com a saúde humana”, pontua. 

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