CBN Maringá

A ilusão da transformação pela educação

É comum ouvirmos, quase como um mantra, que “a educação transforma vidas”. Essa frase soa bonita, esperançosa, mas esconde um equívoco profundo. A educação, por si só, não transforma ninguém. Ela não é uma força mágica capaz de mudar destinos, corrigir injustiças ou despertar consciências adormecidas. A educação é apenas o espaço da possibilidade, o território onde o indivíduo pode — se quiser — refletir sobre si mesmo e decidir agir de modo diferente.

Transformar, de fato, é um ato que pertence a quem aprende, não a quem ensina. O papel da educação é abrir janelas, mas é o educando quem precisa ter a coragem de olhar para fora e enxergar o mundo de um modo novo.

A maiêutica e o parto das ideias

Sócrates compreendeu isso há mais de dois mil anos. Inspirado na profissão de sua mãe, que era parteira, ele comparava o trabalho do filósofo e do professor ao parto das ideias — a maiêutica. Assim como a parteira auxilia a mãe a dar à luz um filho, o professor ajuda o aluno a dar à luz ao conhecimento.

Mas, da mesma forma que o parto depende do corpo e da vontade da mãe, o aprendizado depende do desejo do aluno. O professor pode orientar, provocar, questionar — mas não pode aprender pelo outro. O conhecimento nasce apenas quando há abertura, interesse e disposição em refletir.

Entre o ritual e a reflexão

Quantas vezes participamos de processos educativos apenas para cumprir etapas? Passamos de bimestre em bimestre, de semestre em semestre, de ano em ano, muitas vezes sem nos deixar tocar pelo que aprendemos. O conteúdo passa por nós sem deixar marcas, sem provocar reflexão, sem gerar vida nova.

Nesse sentido, a educação se torna mero ritual, um conjunto de formalidades que pouco ou nada alteram nossa forma de ver o mundo. O verdadeiro aprendizado acontece quando nos dispomos a ir além da superfície — quando estudamos algo e, por meio dele, revisitamos nossas próprias crenças, valores e atitudes.

Educação como oportunidade, não como garantia

A educação não é garantia de mudança. É oportunidade de transformação — e oportunidades não aproveitadas se perdem. É por isso que tantos alunos podem ter o mesmo professor e experiências completamente diferentes. Alguns o reconhecem como uma presença marcante, um ponto de virada em suas vidas; outros mal lembram seu nome.

A diferença está no olhar, na entrega, no desejo de compreender e se reinventar. Assim, a educação está disponível para todos, mas educar-se — esse verbo reflexivo e exigente — não é para qualquer um.

Em suma: a educação não muda o mundo por si só. Ela apenas acende a chama. Cabe a cada um de nós decidir se essa chama se apagará rapidamente ou se se tornará luz capaz de iluminar novos caminhos.

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