Gilson Aguiar: ‘futebol não anestesia a crise que atravessamos’
Agência Brasil

Comentário

Gilson Aguiar: ‘futebol não anestesia a crise que atravessamos’

O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 14/06/2018 - 08:17

A Copa perdida

O clima não é de copa do mundo. As ruas têm pouco colorido do verde-amarelo. A pátria não colocou as chuteiras. O que para muitos sempre foi o ópio do povo. Haverá a torcida, se espera vencer, mas no campo não na vida. Há outros jogos perdidos nas ruas. Para quem se lembra dos 7 a 1, contra a Alemanha, há um gosto de derrota que se prolonga. Uma nova oportunidade de vitória nos campos não anima.

Podemos começar o desencanto por uma economia que não reage. Condenada a crescimentos pífios, o ambiente de incerteza está nos índices medidos por instituições como a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Os dados demonstram que o nível de confiança na economia caiu nos últimos doze meses e não dá sinas de recuperação. A confiança do consumidor atingiu 86,9 em maio, o menor índice desde outubro do ano passado, quando atingiu 85,8. O índice de expectativa com o futuro também sofre baixas constantes, a última, também de maio, foi de 4,8 pontos de queda. Dados também medidos pela FGV.

O ambiente político não mostra confiança tanto no presente como no futuro. A impopularidade do presidente, Michel Temer, bate outro recorde, 82%. A maior da república em toda a história. No mesmo sentido, os brasileiros demonstram, segundo pesquisas do Datafolha e Ibope, sobre a intenção de voto, que não sabem em quem apostar suas fichas no futuro. Os indecisos, voto nulo e branco são a maioria.

Podemos colocar mais um ingrediente no ambiente de crise, a greve dos caminhoneiros demonstrou. Ela expressou uma insatisfação que confunde reivindicações e descontentamentos com o governo. De uma redução do diesel à intervenção militar. Duas medidas inócuas, mas carregadas de decepção.

Neste clima a Copa do Mundo de Futebol, na Rússia, começa. Os olhos de boa parte dos brasileiros irão percorrer os jogos, mas sem a esperança da vitória. A seleção pode até chegar à glória de mais um campeonato mundial. Mas, o gosto amargo da derrota ainda está nas ruas. O que já é um sinal de mudança. Dor que não se anestesia se resolve ou é sinal de doença aguda do paciente. Ou o país muda ou a esperança morre. A realidade crua se instala e fica cada vez mais indigesta.

 

Notícias da mesma editoria

Respeitamos sua privacidade

Ao navegar neste site, você aceita os cookies que usamos para melhorar sua experiência. Conheça nossa Política de Privacidade