Gilson Aguiar: 'o maior perigo são os apaixonados desiludidos'
Imagem ilustrativa/Pixabay/domínio público

Opinião

Gilson Aguiar: 'o maior perigo são os apaixonados desiludidos'

O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 23/07/2018 - 08:10

O país vive uma insegurança imensa. Entre as incertezas do futuro há um grande número de eleitores indecisos e alguns desiludidos e apaixonados. Dois sentimentos perigosos em tempos de incerteza.

Mas de onde vem à paixão messiânica. Ela é uma construção histórica. Produzida na percepção de que no mundo há senhores, profetas, patriarcas. Nosso passado está carregado de “santos do pau-oco” e falsas promessas. Eles resistem e povoam a vida dos que vivem a espera de um milagre.

Não há milagres. A vida pública, o poder político, a administração do Estado, a liderança, é feita de seres humanos, é coisa dos homens e não da vontade divina. E olha que tem muito profeta com a Bíblia na mão vendendo a falsa salvação. A moralização é quase sempre uma pregação do imoral. É como o temor aos gays, em grande parte sentido e derivado da homossexualidade não assumida ou rejeitada quando alguém próximo se manifesta.

O radicalismo já provou ao longo da história que não traz soluções e sim planta problemas. A sensação falsa de solução rápida tem preço na proporção de sua imposição, o ódio. Eliminar como estratégia, o discurso de exigir e de fazer o que ninguém nunca fez são promessas impossíveis quando o tema é a administração pública.

Ironicamente, os que amam estes discursos se aproximam de profetas que independem de serem de direita ou esquerda, tem seus fiéis apaixonados ou desiludidos. A desilusão da decepção com um messias não faz o fiel repensar a sua fé. Ele, muitas vezes, deposita em outro pregador as suas esperanças, suas decepções.

Em meio a tantas incertezas, este é o maior temor. A desilusão que deveria nos servir de lição acaba por alimentar os extremos. Não aprendemos, erramos incessantemente. O meio a nossa volta não ajuda. As poucas discussões racionais sobre o momento que estamos vivendo não contaminam, mas o espetáculo da fé se propaga. Novos messias sempre aparecem.

A ironia é que os discursos dos populistas messiânicos pode ter a lógica da esquerda ou da direita, o que importa é o sentimento de salvação pelo cajado do messias. O discurso do “vem comigo” que resolvo, “sigam-me e não se arrependeram”, se propagam. Mas quando o milagreiro assume o poder e começa sua jornada de terror, é tarde demais. Até mesmo para quem acreditou nele.

Notícias da mesma editoria

Respeitamos sua privacidade

Ao navegar neste site, você aceita os cookies que usamos para melhorar sua experiência. Conheça nossa Política de Privacidade