

Opinião
Tempo, Controle e Produtividade: Repensando a Cultura Organizacional
O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 02/05/2025 - 11:00
Introdução
Em muitas empresas ainda prevalece uma lógica de controle rígido sobre os funcionários. Monitoramento de horários, observação constante de comportamentos e resistência ao home office são práticas comuns que refletem uma mentalidade tradicional sobre o que significa ser produtivo. Mas será que tempo sempre equivale à produtividade?
O Modelo Tradicional: Tempo como Medida de Produção
Historicamente, a cultura empresarial vinculou diretamente o tempo de trabalho à produtividade. A lógica era simples: quanto mais horas você estivesse presente no ambiente de trabalho, maior seria sua entrega. Essa mentalidade surgiu no contexto da formação do capital produtivo, especialmente no modelo industrial, onde o tempo era o principal insumo da produção.
Ainda hoje, essa mentalidade persiste em muitas organizações. Funcionários são cobrados por sua pontualidade, pelo tempo que passam em suas mesas e até pela frequência com que vão ao banheiro. Em algumas empresas, pedir para trabalhar em home office é visto com desconfiança — como se a ausência física comprometesse automaticamente a entrega.
A Nova Realidade: Resultados Acima de Horas Trabalhadas
No entanto, os tempos mudaram — e com eles, a forma de produzir. A produtividade deixou de estar diretamente associada ao tempo e passou a ser medida pelos resultados. Em um cenário cada vez mais dinâmico, marcado pelo uso intensivo de tecnologia e pela valorização do conhecimento, a competência profissional é mais relevante que a permanência física no escritório.
Alguns profissionais, graças à sua qualificação, habilidades específicas e domínio das tecnologias, conseguem produzir com excelência em menos tempo. A entrega de valor, portanto, não está atrelada à quantidade de horas dedicadas, mas à eficácia e qualidade do que é produzido.
O Caso da Educação: Produzir Conhecimento Não se Mede em Horas
Tomemos como exemplo o setor educacional. Durante anos como professor em diversas instituições, pude observar o apego quase obsessivo de algumas delas ao controle de horários. Havia a crença de que o cumprimento estrito da carga horária seria sinônimo de produtividade acadêmica. Contudo, na prática, ensinar — produzir e transmitir conhecimento — vai muito além de estar fisicamente presente em sala de aula por um número fixo de horas.
Educação, como outros serviços que dependem da competência intelectual, é uma atividade cuja produtividade não pode ser medida por critérios industriais. O tempo, nesse contexto, é um indicador falho. O que conta, de fato, é a capacidade do professor de engajar, inspirar e transmitir conteúdo relevante em qualquer espaço-tempo.
O Controle e Seus Limites
A necessidade de controle por parte das empresas muitas vezes revela traumas institucionais, inseguranças e uma tendência à generalização. O problema é que essa generalização pode gerar injustiças. Profissionais autônomos, produtivos e responsáveis são frequentemente penalizados por políticas que não os reconhecem como exceções, mas os tratam como riscos potenciais.
Conclusão: Confiança, Competência e Cultura Organizacional
É hora de repensar a cultura organizacional. Em vez de controlar o tempo, é preciso valorizar a entrega. Em vez de vigiar, é necessário confiar. Empresas que desejam prosperar em um mundo em constante transformação precisam reconhecer que a potência de um profissional está em sua competência — não em sua permanência sob vigilância.
O desafio, portanto, é cultural. Trata-se de abandonar velhos modelos e adotar uma visão mais moderna, flexível e justa da produtividade. Afinal, o verdadeiro talento não se mede no relógio.
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