

Opinião
Liberdade é escolha, mesmo quando se ignora
O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 05/09/2025 - 08:00
A liberdade como destino humano
Para o filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard, estamos condenados à liberdade. Essa visão, posteriormente retomada pelo francês Jean-Paul Sartre, um dos principais nomes do existencialismo do século XX, reforça a ideia de que a liberdade não é um direito concedido por leis ou normas sociais, mas uma condição inevitável da existência humana.
Não somos livres porque o Estado garante, tampouco porque estamos protegidos por um sistema jurídico. Somos livres porque nossa própria existência nos impõe essa condição.
Mesmo aprisionado, ainda livre
No existencialismo, estar condenado à liberdade significa que, em qualquer situação — mesmo na prisão ou em condições de escravidão —, o ser humano ainda possui a possibilidade de resistir, de lutar ou de escolher não agir. Até o silêncio, até a omissão, é uma escolha.
Assim, a liberdade é absoluta, mas também carregada de responsabilidade. Não há como fugir do fato de que cada ação — ou inação — revela uma decisão.
A angústia e a construção da vida
Diante dessa condenação, nasce a angústia: a liberdade nos coloca frente à responsabilidade de construir a vida de acordo com as escolhas que fazemos. Não existe predestinação, dons naturais ou caminhos já traçados. Somos resultado de nossos atos, conscientes ou não, planejados ou espontâneos.
A vida, portanto, é um projeto contínuo. Ela é construída no dia a dia, seja quando olhamos para o futuro com esperança, seja quando refletimos sobre o passado com arrependimento. Em qualquer caso, existir é escolher.
A estética e a ética da existência
Para Kierkegaard, grande parte da humanidade vive em um estágio estético da existência: um dia após o outro, guiado apenas pelos prazeres imediatos, sem reflexão profunda sobre os rumos da vida. É uma forma de viver que ignora a responsabilidade inerente à liberdade.
Poucos, no entanto, alcançam o estágio ético, em que as escolhas são orientadas por valores maiores e pela consciência da responsabilidade diante da vida.
O papel da ética como esperança
Apesar de a maioria viver esteticamente, Kierkegaard não anula a esperança. Para ele, o futuro da humanidade repousa justamente sobre aqueles que vivem de maneira ética. São os indivíduos que, ao escolherem com responsabilidade, oferecem à coletividade a possibilidade de um sentido maior.
Assim, a liberdade, ainda que uma condenação, é também a maior oportunidade humana: a de dar forma à própria existência e, ao mesmo tempo, influenciar o destino da humanidade.
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