Caso Itaú: demissões em massa e a desumanização nas relações de trabalho
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Opinião

Caso Itaú: demissões em massa e a desumanização nas relações de trabalho

O comentário de Gilson Aguiar por Geovan Petry em 10/09/2025 - 09:00

Mais de mil funcionários desligados de uma só vez

Na última segunda-feira, o Banco Itaú realizou a demissão de mais de mil funcionários em uma única decisão. O motivo alegado pela instituição foi a suposta incompatibilidade entre o registro do ponto eletrônico e a atividade real desempenhada pelos trabalhadores em regime de home office.

Segundo o banco, os colaboradores não cumpriam adequadamente a carga horária de trabalho exigida, o que teria justificado os desligamentos.

A posição do sindicato e a complexidade do trabalho bancário

O sindicato que representa a categoria reagiu prontamente. A entidade classifica a decisão como injusta e questiona os critérios adotados para avaliar a produtividade dos funcionários. Para o sindicato, as métricas utilizadas pelo banco não refletem a complexidade do trabalho bancário e, portanto, não são adequadas para aferir o desempenho dos profissionais.

A crítica central está no fato de que, ao usar parâmetros generalistas, o banco desconsidera as especificidades das funções desempenhadas em home office, reduzindo a análise da performance a indicadores automatizados.

A desumanização dos processos de desligamento

Um dos pontos mais sensíveis nesse episódio é a forma como a demissão foi conduzida. Mil pessoas perderam seus empregos sem diálogo, sem realocação e sem explicações personalizadas. Trata-se de uma demissão em massa pautada por médias e generalizações, sem que houvesse o mínimo de contato humano entre gestores e funcionários desligados.

Essa forma de agir reforça uma tendência preocupante: a transformação de pessoas em números dentro das grandes corporações.

Home office, algoritmos e a padronização do humano

O crescimento do trabalho remoto trouxe consigo um aumento no uso de ferramentas tecnológicas e algoritmos para medir desempenho. Entretanto, ao generalizar comportamentos e aplicar métricas padronizadas, esses sistemas frequentemente deixam de reconhecer a singularidade de cada trabalhador.

Nesse cenário, a inteligência artificial e as métricas digitais passam a desempenhar um papel central nas relações de trabalho. Porém, ao priorizar dados e estatísticas, muitas vezes desconsideram o ser humano por trás do número.

O impacto humano: do “tete a tete” ao “delete”

No passado, uma demissão significava, ao menos, um encontro entre gestor e funcionário, uma explicação frente a frente sobre os motivos da decisão. Hoje, em muitos casos, desligar um trabalhador se resume a pressionar uma tecla.

Essa realidade levanta uma questão crucial: a vida está se tornando cada vez mais automatizada, reduzida a cliques, números e padrões? Talvez, em algum momento, a própria sociedade sinta a necessidade de resgatar a dimensão humana nas relações de trabalho — reencontrar o olhar, o diálogo e o reconhecimento do outro como ser humano.

Quando mil se tornam apenas estatística

O Itaú é o maior banco da América Latina, com cerca de cem mil funcionários. Dentro desse universo, a dispensa de mil colaboradores pode parecer um número pequeno, estatisticamente irrelevante. Mas, para cada uma dessas pessoas, trata-se de uma perda imensa, carregada de consequências pessoais, familiares e sociais.

Reduzir vidas a estatísticas é ignorar a essência da convivência humana. O episódio revela um dilema contemporâneo: como equilibrar eficiência, tecnologia e métricas com a necessidade de preservar a dignidade e o sentido do trabalho humano?

 

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