
Opinião
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No cotidiano das relações humanas e das experiências subjetivas, duas condições frequentemente se contrapõem de maneira radical: a consciência e a alienação. Embora opostas em sua essência, ambas definem como nos posicionamos diante de nós mesmos, dos outros e da realidade que nos cerca.
A consciência é a capacidade de perceber a si mesmo, o lugar que se ocupa no mundo e os elementos — visíveis ou não — que compõem esse entorno. Já a alienação caracteriza-se por um afastamento dessa percepção, uma espécie de presença ausente, em que o indivíduo está, mas não está. Vive, mas não compreende plenamente a vida que leva.
Ser consciente é mais do que simplesmente perceber o ambiente. É um processo de profunda reflexão que nos conduz à compreensão das condições objetivas e concretas que moldam quem somos. Trata-se de captar os processos, procedimentos, ações e suas razões lógicas. A consciência exige esforço, exige mergulho na realidade — ainda que esta doa.
Esse despertar não é imediato nem superficial. É fruto da vontade de entender as engrenagens que movem o mundo ao nosso redor e, principalmente, nosso papel dentro dele. Quem atinge essa percepção, ainda que não plena, aproxima-se de um grau de liberdade intelectual e existencial que poucos ousam buscar.
A alienação pode se manifestar de formas diversas. Em alguns casos, é fruto da ausência de capacidade de perceber — o que pode ser resultado de limitações estruturais, educacionais ou psicológicas. Em outros, é uma escolha consciente de não ver, de não querer enxergar a realidade. Essa negação voluntária da vida como ela constrói um mundo paralelo, mais palatável, mais confortável.
Nesse mundo, o alienado encontra uma falsa sensação de segurança e liberdade. Afinal, encarar as verdades duras da existência implicaria tomar decisões, mudar posturas, sair da inércia. E muitas vezes, ele simplesmente não quer — ou não consegue — fazer isso.
Ao contrário da alienação, a consciência não oferece conforto imediato. Pelo contrário: ela é, muitas vezes, dolorosa. Compreender o mundo em sua crueza e complexidade exige enfrentar dores que a ignorância esconde. A liberdade verdadeira nasce dessa dor. Ela é o resultado de quem encara a vida com lucidez, que sofre para entender, mas que, ao superar esse sofrimento, alcança uma liberdade autêntica.
Enquanto o alienado anestesia-se para não sofrer, o consciente sente — e, sentindo, transforma-se. Esse é o preço de viver com intensidade, com verdade, com responsabilidade.
Viver entre a consciência e a alienação é uma encruzilhada constante. A alienação nos seduz com promessas de conforto, mas nos aprisiona em um mundo irreal. A consciência nos desafia com dores e exigências, mas nos conduz à verdadeira liberdade.
A pergunta que se impõe, portanto, é: estamos dispostos a sentir a dor necessária para sermos livres? Ou preferimos viver anestesiados em uma liberdade ilusória?
A resposta, como sempre, está em cada um de nós.
Até a próxima!
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