28 de outubro de 1958, a eleição do papa João XXIII
A semana na História

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28 de outubro de 1958, a eleição do papa João XXIII

A semana na História por Reginaldo Dias em 27/10/2025 - 11:50

Em 28 de outubro de 1958, o colégio cardinalício católico anunciou ao mundo a eleição do sucessor do Papa Pio XII, falecido naquele mês. O nome escolhido não constava das listas especuladas pelos especialistas: era o Patriarca de Veneza, o cardeal Ângelo Roncalli, que assumiu o nome de João XXIII.

Embora o rito de eleição do papa, realizado pelo Conclave, seja involucrado por códigos de sigilo, é possível interpretar, desde cedo, qual foi o sentido da decisão do colégio cardinalício.

É consenso entre os intérpretes que a eleição de Ângelo Roncalli foi movida pela ideia de investir em um papa de transição, após o longo pontificado de Pio XII, iniciado em 1939. Contando 77 anos, Roncalli era, para os padrões da época, uma homem muito idoso, apenas cinco anos mais jovem do que o seu antecessor. Ele próprio anotou em seu diário que esperavam que ele fosse um “papa provisório e transitório”, sem consequências. Seu pontificado foi curto, encerrado em 3 de junho de 1963, mas foi um dos mais fecundos da história do catolicismo.

O papa João XXIII notabilizou-se por convocar o assim chamado aggiornamento, ou seja, convocou a Igreja Católica a colocar-se em dia com o mundo. Desde os dois últimos séculos, em face das revoluções políticas e da secularização da sociedade, a Igreja Católica havia assumido uma posição defensiva para preservar seu poder institucional e simbólico. Já em 1891, o papa Leão XIII havia editado a Encíclica Rerum Novarum (Das coisas novas), dialogando com o mundo dos operários e inaugurando o magistério social da Igreja.

Em 1961, João XXIII editou a encíclica Matter et magistra, atualizando esse magistério social, em diálogo com as ideologias laicas do mundo político. Na Encíclica Pacem in terris, editada em 1963, João XXIII estimulou, de forma pragmática, a colaboração entre católicos e não-cristãos no seio dos movimentos políticos, com vistas à promoção do bem comum. Para tal, estabeleceu uma distinção entre doutrinas e movimentos, permitindo a colaboração em favor de objetivos práticos, sem compromissos quanto aos fundamentos.

 Acima de tudo, João XXIII convocou e abriu o Concílio Vaticano II. Esse concílio promoveu reformas litúrgicas e pastorais de grande alcance e profundidade, embora ele próprio, o papa João XXIII, não vivesse tempo suficiente para dirigi-lo até o final. O concílio elabora a visão de uma igreja sinodal, mais colegiada, menos hierárquica. Também estimulou o ecumenismo e o diálogo inter-religioso. Outra importante reforma derivada do Concílio Vaticano II foi a litúrgica. Até então, a missa era oficiada em Latim, com a finalidade de ter um rito que fosse vocalizado pelo mesmo idioma em todo mundo. Isso acentuava o caráter universal da Igreja, mas havia um enorme distanciamento não apenas das línguas nacionais como também da linguagem praticada pelas camadas mais populares. Mais do que permitir o rito na língua de cada país, a reforma tinha um objetivo pastoral mais amplo. Com um sentido antropológico, convidava a um diálogo mais profundo com a cultura de cada nação. Em países fortemente estratificados socialmente, era preciso entender e falar a língua das camadas populares.

Embora breve, o pontificado de João XXIII não foi de transição, tal como esse termo era entendido quando de sua eleição. Foi um verdadeiro turning point na história contemporânea do catolicismo.

Ouça "A Semana na História" toda segunda-feira, com o professor e historiador Reginaldo Dias, às 11h50, com reprises às 14h50


 

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