6 e 9 de agosto: o pesadelo das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki
A semana na História

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6 e 9 de agosto: o pesadelo das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki

A semana na História por Reginaldo Dias em 04/08/2025 - 11:50

"O pior dos fins": as bombas de Hiroshima e Nagasaki

Era o dia 6 de agosto de 1945. O avião B-29, Enola Gay, comandado pelo coronel Paul Tibbets, sobrevoou Hiroshima a 9.448 metros de altitude e, quando os ponteiros do relógio indicaram 8h16, bombardeou-a com um artefato nuclear de urânio, com 3 m de comprimento e 71,1 centímetros de diâmetro e 4,4 toneladas de peso. A bomba, apelidada de Little Boy, foi detonada a 576 metros do solo. Um colossal cogumelo de fumaça envolveu a região. Corpos carbonizados jaziam por toda parte. Atônitos, sobreviventes vagavam pelos escombros à procura de comida, água e abrigo. Seus corpos estavam dilacerados, queimados, mutilados. Cerca de 40 minutos após a explosão, caiu uma chuva radioativa. Muitos se banharam e beberam dessa água. Seus destinos foram selados.  

Três dias depois, um novo ataque nuclear aniquilava outra cidade do Japão, Nagasaki, desta vez com uma bomba de plutônio (Fat Man). Dias 6 e 9 de agosto de 1945. Estas datas entraram para a história como símbolos indeléveis da tragédia humana, e ainda hoje provocam disputas de interpretações: os ataques foram necessários para encerrar o conflito ou uma decisão política para intimidar a União Soviética?

Em agosto de 1939, Albert Einstein escreveu uma carta ao presidente Franklin D. Roosevelt. Exilado nos Estados Unidos, o renomado cientista alertava sobre a possibilidade de os alemães desenvolverem uma poderosa bomba a partir da fissão atômica do urânio. Preocupado, Roosevelt designou uma comissão para estudar o assunto. Em 1942 foi criado o “Projeto Manhattan”, comandado pelo general Leslie Groves e com equipe científica coordenada por Julius R. Oppenheimer. O programa funcionava sob segredo de Estado e disciplina militar. Iniciado com parcos recursos, logo se tornou prioridade, com investimentos de 2 bilhões de dólares e uma equipe de centenas de cientistas e cerca de 130 mil trabalhadores. 

A Segunda Guerra aproximava-se do final quando, em 16 de julho de 1945, o artefato nuclear foi testado com sucesso em Alamogordo, no Novo México, Estados Unidos. Após acompanhar a experiência, o secretário da Guerra, Henry Stimsom, voou para a Alemanha, onde acontecia a Conferência de Potsdam, e transmitiu a notícia ao presidente Harry Truman, que decidiu bombardear o Japão.

O uso da aviação tornara-se cada vez mais intenso durante a Segunda Guerra. Ao vislumbrarem o final da batalha na Europa, os Estados Unidos focaram no Japão. Em junho, os Estados Unidos conquistaram as ilhas Marianas, no Pacífico, onde construíram uma base aérea. Dali partiam os ataques. A princípio, o objetivo era destruir a infraestrutura militar e industrial dos japoneses. No entanto, em 1945, iniciaram-se bombardeios noturnos contra grandes cidades. Entre março e julho, os bombardeios mataram mais de 300 mil civis, feriram 1 milhão e desabrigaram de 8 a 10 milhões de pessoas.

O desfecho trágico e definitivo viria com a decisão do bombardeio atômico. Inicialmente foram escolhidas como alvo, por ordem de prioridade, as cidades de Hiroshima, Kokura, Nagasaki e Niigata. O acaso de uma instabilidade climática poupou Kokura e condenou Nagasaki. 

Historiadores ortodoxos, alinhados com a política oficial dos Estados Unidos, defendem que as bombas atômicas foram uma medida necessária para encerrar de vez o conflito com o Japão. Haveria evidências de que o país preparava uma forte defesa, uma batalha decisiva. O ataque nuclear, ao abreviar a guerra, teria poupado a vida de milhares de soldados estadunidenses e de civis japoneses, uma vez que um desembarque no Japão custaria de 500 mil a 1 milhão de vidas. Historiadores Revisionistas, críticos daquela justificativa, afirmam que a decisão foi uma demonstração de força para intimidar os soviéticos, em função das tensões emergentes entre as duas potências. Os japoneses já teriam até mesmo acenado com uma rendição, mas para os Estados Unidos seria mais vantajoso terminar a guerra com o Japão antes da entrada da União Soviética, evitando a divisão de áreas de influência na região. Desta perspectiva, os bombardeios nucleares ao Japão são considerados como as primeiras declarações da Guerra Fria.

Pior do que a permanência das controvérsias são os efeitos que perduraram nas populações atingidas. Ao longo dos anos, a radioatividade continuou a ceifar e a degradar vidas por meio do câncer, da leucemia e da deformação genética. 

Por Sidnei Munhoz

Ouça "A Semana na História" toda segunda-feira, com o professor e historiador Reginaldo Dias, às 11h50, com reprises às 14h50


 

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