Ouça "A Semana na História" toda segunda-feira, com o professor e historiador Reginaldo Dias, às 11h50, com reprises às 14h50
A semana na História
No próximo domingo, os cadernos culturais da grande mídia poderão dizer: “faz cinquenta e oito anos hoje que o sargento Pimenta ensinou a banda tocar”. A referência é aos primeiros versos da canção que abre o álbum “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles. Mediante a contagem específica de cada efeméride, foi assim que aconteceu no vigésimo, no trigésimo, no quadragésimo e no quinquagésimo aniversário do disco, lançado em 1967. Não se conhecia um precedente de um álbum de música popular ter sido tão celebrado.
Desde 1963, o quarteto inglês vivia um crescendo de popularidade e de vendagem de discos, tornando-se um impressionante fenômeno da indústria cultural. A crítica especializada, no entanto, acompanhava com certa desconfiança, porque os temas das canções eram ainda muito convencionais e a própria sonoridade, embora contagiante, parecia pouco inovadora em relação ao rock and roll da década anterior. Havia, no entanto, novidades, como a reivindicação de trabalho autoral pela dupla Lennon & McCartney. Acima de tudo, havia a ideia de uma nova juventude em gestação. O quarteto de Liverpool não criou o ambiente da ascensão da cultura da juventude, mas interagiu com ele e contribuiu para moldá-lo.
Em menos de três anos, insatisfeitos com a condição de celebridades da indústria cultural, eles passaram a produzir canções e álbuns mais elaborados, evidenciando maturidade poética e musical. Atuando como antena do seu tempo, capturavam a sensibilidade da rebeldia de sua geração e apontavam caminhos. Cansados da idolatria estimulada pelas extenuantes temporadas de shows em teatros e em estádios, dedicaram-se à produção musical em estúdio, elaborando verdadeiras obras-primas da música popular, a mais incensada das quais foi o álbum Sgt. Peppers.
O que havia de tão inovador e revolucionário? Primeiramente, o álbum foi pensado como uma obra conceitual, em que os temas de cada faixa se interligassem e formassem um todo. Não seria, como acontecia na indústria fonográfica, uma coleção de faixas isoladas. Os arranjos musicais eram complexos, incorporando instrumentos exóticos, sonoridades pouco convencionais, temas orientais, gêneros de outras épocas, intervenções de orquestras. O álbum estava repleto de temas alegóricos e sintetizava o clima de desencanto com a sociedade de consumo, principalmente em suas faixas mais elaboradas.
O álbum também inovou na produção de sua capa, considerada uma obra de arte para o gênero. Além disso, incorporou, pela primeira vez, as letras das canções na quarta capa. Com isso, os Beatles entravam, definitivamente, em sua fase madura. E a música rock deixou de ser uma diversão para adolescentes para se tornar uma expressão cultural densa de sua época. A crítica especializada definiu o álbum como um barômetro da década.
A persistente celebração comprova que o álbum sobreviveu à prova do tempo, assim como seus criadores. Há, hoje, uma bibliografia bastante ampla a respeito desse disco e da obra do quarteto. Com a propagação das mídias digitais, tornaram-se acessíveis documentários com o making of e com a repercussão instantânea e posterior do álbum. Não há mais o hábito de comprar discos ou CDs, mas a obra está nos canais de streaming. Talvez a sua audição, atualmente, não impressione tanto porque muitas das suas inovações foram incorporadas por seus contemporâneos e por quem veio depois. Mesmo assim, é uma audição que recompensa.
Como disse um historiador, os Beatles não promoveram a festa da juventude da década de 1960, a década da rebeldia, mas sua música é parte essencial de sua trilha sonora.
Ouça "A Semana na História" toda segunda-feira, com o professor e historiador Reginaldo Dias, às 11h50, com reprises às 14h50
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